Domingo, 9 de fevereiro, faltam dez dias mais seis para os meus 36, quando tive uma epifania. Da vida, essa louca ensandecida, essa que nunca me pergunta a opinião, essa que me surpreende a cada esquina, venho ganhando presentes. A vida, sim, essa mulher de humores inconstantes, essa louca varrida, essa senhora sábia e vivida, sim, a vida vivida, essa tem me ensinado mais e a cada dia. Carrego clichês como um bicho de carga, firme no passo e sem questionar. Escuto, dessa mulher intempestiva, que a cada curva, a cada aclive, descida, não há só incertezas como também verdades sucumbidas. Questiona minha carga e ri da minha cara.
Que quer ela com as certezas? Elas pra nada servem, só mentem, enganam e desviam da alegria. A vida, essa bonita, me conta aos sussurros, me faz dos pelos ouriços, os segredos dessa existência. Aí, com ela, vou assim, despretensiosa descobrindo, com leveza que o prazer é uma brincadeira. Que o amor acontece na distração e que o relaxamento do corpo é o sentido em confirmação. Caetano já dizia, ela é gostosa. Essa mulher gostosa, sinuosamente insinuante, aberta ao fazer inventivo, castradora das pretensões controladoras, ela que ensina que para ser verbo, para viver é preciso amar como o poeta, no infinitivo, coloca ponto. E final. Mas, como, quem escreve sou eu, finita, insistente e também inaudita, digo, reitero e afirmo: vida, tu és minha, e quem diz de ti sou eu. Na minha escrita faço e aconteço, me sinto autora, arbitrariamente livre. Aceite. Me aceite, assim como te aceito minha.