Escolho homenagear
esse buraco dilacerado que você deixou em mim. Assim, despedaçada, um monte de
coisas pequenas e frágeis, de uma tristeza que o vento não leva porque é
leviano. Isso, esse resto, anda por aí, imitando algo que parece gente, mas se
arrasta, repete, por vezes até ri, só desespero. Sentir-me assim, viver não,
existir assim covardemente, sem pegar a putamerda da vida pelos cabelos é a
escolha que não cesso de fazer. Para que serve? Serve para quem eu escolhi
homenagear. A cada desistência, procrastinação, corpo jogado esperando um novo
(e sempre o mesmo) senhor para servir é o que eu continuo escolhendo. Deixar
ir, o buraco não, esse é meu e ninguém tasca, mas permitir que ele possa ser
preenchido e esvaziado, preenchido e esvaziado, deixar ele pulsar e permitir
que a oferenda aos mortos seja dada como despedida, sepultada por fim...dar
adeus, caminar sin pensamientos. Permitir que o prazer possa fazer do meu corpo
festa, beleza, amorosidade. É só isso. Abrir mão, deixar ir e ser. Difícil é
desejar sem pagar a dívida.
terça-feira, 26 de janeiro de 2021
Dívida
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