Bom mesmo é o calado. Comprime as narinas entre o polegar e o indicador, encolhido. Veste-se de precaução e faz-se todo mesuras, pretensiosamente sábio. Dolorido por não conseguir se esquivar das mais àsperas repreensões. Embrutecido, posa de coerente, vive de aparências. Virtuoso, deita. E sonha escândalo. Algo violento, violador. Desejo ébrio de irromper-se, seja por calores ou tremores, sempre profundos ainda que busquem a superfície. Por êmese, pelos poros, por qualquer fresta. Mudez em mudança.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
domingo, 22 de setembro de 2013
Lindo e raro encontro
Se sou sincera? Não existem
pessoas sinceras. Sinceridade não constitui estado permanente, é fenômeno. E
dos espontâneos. Sinceridade é sempre espontânea. Honestidade é premeditada,
sinceridade acontece. Perguntas súbitas evocam respostas sinceras. A surpresa é
sincera. O riso incontido também. O choro que transborda é sinceridade úmida
que escorre pelo rosto. O suspiro de exaustão, os vômitos em jato e a coceira,
o olhar deslumbrado dos apaixonados. Sinceridades somáticas. Acontecimentos
sinceros revelam. São véus caídos que desnudam verdades. E mais, que
possibilitam identidades e identificações. Ou você nunca se identificou com um
comportamento inapropriadamente sincero? Uma risada no velório ou uma crise de
tosse no silêncio de uma platéia atenta? O inoportuno é sincero. O incoveniente
também. O arroto que escapa e o bocejo que viola o mutismo dos lábios
comprometidos com a escuta do outro. Acredito mesmo que a sinceridade é sempre
um grito de liberdade. Por vezes em baixos decibéis, mas não menos grito. No
que o grito tem menos de forma do que de conteúdo. A sinceridade é a erupção da
singularidade. Ok, posso ser a maior parte do tempo esse ser social e sociável,
mas a sinceridade resgata-me do outro. Permite-me ser o que sou, ainda que por
fugazes instantes. Instantes que podem possibilitar um lindo e raro encontro: o
que há de sincero em mim conhecer o que de sincero há no outro.
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