Estranhei meu reflexo no vidro do ônibus. Quase narciso, mas às avessas. Era assim que sentia aquele dia, do avesso. Acordada, parecia sonhando. Insone, nenhum descanso desde a noite anterior, só fragmentos tensos de uma vida sem pausa. E foi na pausa, na viagem, entre o fazer e o não pensar, que me vi. Uma estranha calada encarou-me naquele reflexo. Um esboço rasurado de alguém que já fui, alguém que preferia não ser. Alguém entre, no entremeio de duas vidas, uma aborrecida, outra indesejável. Um vazio esperava-me na descida, na próxima parada. E assim permaneci: calada, imóvel. Uma estranha à espera.
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