Lá vai ele. Barco de leme leve, balançando sobre as ondas, incessante
sobe e desce. A cada marola, vento sem importância ou brisa boba, sua proa é
levada, rumo incerto. Navega inseguro, tremulante, para onde ninguém
sonha. Sofre a solidão dos que duvidam e nunca acertam. À espera de uma certeza,
mesmo que breve, ainda que rara. Deseja um marujo, um mestre, uma bússola já
bastava. Perdido, aposta. Aposta no rumo das coisas que parecem, mas nunca
chegam a ser. Aposta na liberdade dos destinos sem nome. Num universo diverso,
onde se convida a serenos gestos, sorrisos suaves e lentas melodias. Da
estranha estabilidade, o barco se esquiva, vê ali sombras intranquilas. Foge o
que pode, sem fôlego, sem asas, só remos curtos. E deseja! Deseja mares,
oceanos, infinitudes insuperáveis para que possa dar a si o consolo da doce
derrota das grandes tentativas.
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