terça-feira, 14 de maio de 2013

Fortaleza



Relaxa, não estamos em guerra. Isso, solta os ombros, respira um pouco mais profundo. Veja. O feio, o mau e o errado não irão destruir você. Ah, de injustiças é feita a civilidade, de malvadeza está cheia a cidade, tem razão. O coração dos homens há muito ganhou membrana pétrea, um pericárdio áspero. Corpos cheios de membranas endurecidas. Contratilidades restritas, respirações rasas, olhos míopes e ouvidos hipoacúsicos. Como dizia o Rei, todos estão surdos. Concordo, estamos perdendo a afetação do sensível. O mundo é hostil, a vida injusta e você morrerá sozinho. Tá bem, é isso mesmo. Ainda assim, para quê servem essas defesas? Aonde você vai com essa carranca tesa que não tira, nem no banho ou na cama? Para quê esses punhos fechados, esses dentes cerrados e os sapatos apertados? De onde vem o insulto que justifica o seu armamento pesado? A defesa não é o melhor ataque. Fecha os olhos.  Lembra a tranquilidade dos dias iluminados, do afago morno deslizando nos cabelos, da bebida quente acariciando as mucosas e confortando o estômago, do algodão macio e perfumado abraçando a pele. Interrompe a corrida e percebe os pés tocando o chão suavemente. Sinta o alívio dos músculos, a tez leve e o espreguiçar dos dedos. Pega um espelho e encara a imagem refletida...O desejo narcisista caducou. A vida é mais. Medos desnudados convidam encontros e entregas. A sensibilidade pode ser uma poderosa arma de guerra.

6 comentários:

  1. Sensacionais teus escritos, Paulinha! Virei teu fã! Beijos.

    ResponderExcluir
  2. É triste quando a gente percebe que vai se dessensibilizando, mas nem por isso fica mais forte.
    Ainda bem que a sensibilidade do teu texto faz a gente acordar pra isso!

    ResponderExcluir
  3. Descobri porque tu é contra medicamentos! Li e relaxei, a única coisa que me ocorreu! " Esquentar a água e sorver um mate em nossa homenagem'

    ResponderExcluir