quarta-feira, 8 de maio de 2013

Para a Fran

Hoje, a Fran, não veio. As vírgulas não são um acaso. A separação entre sujeito e verbo não é um erro. Diz da minha condição atual. Hoje, entre-vírgulas, não veio. Não foi só a Fran que não veio. Muita gente não veio. O Carlos não veio, meu ex não veio, meu pai não veio e até meu terapeuta não respondeu a mensagem que enviei, então ele também não veio. Não sei mesmo se os queria aqui. Todos ou qualquer um deles. Dependendo de quem viesse, a recepção seria hostil. Cadáveres seriam recebidos com horror, ex-namorados com desdém, talvez o atual, hoje e aqui, com indiferença. É isso. Nem todos os ausentes de fato fazem falta. As presenças são sempre condicionais. O texto, no entanto, referia-se à ausência da Fran. Sim, a Fran, faz falta. Principalmente aqui. No café que diz tanto da nossa relação, uma amizade que começou magrinha e discreta, do mesmo modo que éramos então. Foi ganhando corpo e peso, assim como nós. Arrisco dizer que nossa amizade sofre de sobrepeso. O peso não excede apenas em nossos corpos, é excedente também no afeto que tanto nos afeta. Excede em saudades, em lágrimas, em desejos de felicidade, em preocupações à distância. Aprendi isso na vida: sou afetada na medida em que afeto. Acredito nisso. Na exata medida. A preocupação que a Fran sente lá em São Paulo, imaginando o que sua amiga apronta longe de seu olhar cuidador, é do mesmo tamanho da minha preocupação com ela. O que será que a Franzinha estará passando lá sozinha? Por onde anda aquela cabecinha no silêncio das noites insones e quantas lágrimas já foram derramadas na solidão do seu flat? Sim, somos mulheres de casa de flat nos Jardins e casa de praia em Florianópolis! É verdade que o glamour dessas afirmações em nada reflete o que se passa em nossas contas bancárias...mas blefamos! Afinal, o que não é blefe? Blefamos a independência feminina, ainda que em nosso sonho dourado more um príncipe que nos ame e nos cuide incondicionalmente. Quem quer condições no amor? Queremos um amor que seja à vista, em espécie e na moeda corrente. E não queremos pouco, nem todo serve, queremos demais. O excesso. Queremos um amor que seja tão doce quanto as tortas açucaradas e os capuccinos que dividíamos em nossas tardes de confidências. Queremos um amor que nos deixe enjoada e do qual possamos nos queixar. Do mesmo modo que nossa querida mana Jacque fazia, na época em que éramos quatro com a Carol, ao terminar qualquer refeição. Ajeitava-se na cadeira, passava a mão sobre a barriga e queixava-se com um sorriso de canto de boca: "Ai, acho que comi demais!"
Desejamos que seja demasiado, demasiadamente ideal. O amor dos nossos pais, ainda que de modo totalmente distintos, fez-nos mal acostumadas. Buscamos aquele amor, procuramos por aí, perguntando às ruas, aos silêncios, à solidão: Cadê aquele amor? Somos irmãs. Irmãs no desejo pelo ideal, irmãs na decepção do real e irmãs na busca pelo possível. Sinto falta de ti, Fran. Não apenas porque tuas risadas, expressões, gestos e toques enchiam minhas tardes de cafeína e carinho. Porque dividíamos amor. Porque somávamos, ainda que pelos caminhos impulsionadores da angústia, calor e amparo. Das minhas lágrimas, das tuas lágrimas, fizemos muitas gargalhadas. Da tua dor, da minha dor, desenhamos cenários coloridos cheios de estima. Por que inflávamos sempre os egos, os nossos, juntas, porque sempre dizíamos que éramos foda! Dos cafés, saíamos hiperglicêmicas, com a cara grudenta e o coração aquecido. É você que, hoje, faltou minha amiga querida. Eu vim, tomei o mesmo capuccino médio, comi a mesma torta de três mousses e pedi a mesma água mineral sem gás. Saio daqui para falar com os fantasmas na cadeira da sala do analista. Mas você faz falta. O açúcar, sem teu afeto, é menos doce.

8 comentários:

  1. Certa vez vc me disse que era difícil saber o que se passava pela minha cabeça. Às vezes acho que vc me entende melhor que eu mesma.
    Ai, q saudade doída!

    ResponderExcluir
  2. saudades de vcs!
    e sim, eu ainda passo por esses momentos de "ai, comi demais!" ahuahuhuahua
    e queria ter estado no shopinho com vcs fazendo "sessao de terapia"...

    ResponderExcluir