segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Covardia

Desorientada, habitando corpo sacudido por turbulências, intensidades, veleidades. Assim tenho vivido. Há dias uma migrânea fez da minha têmpora esquerda morada. Lembrete insistente de minha distração inoportuna. A cada badalada pulsátil, nauseante, faz-me recordar da urgência da decisão que me espera. Tento ignora-las, a dor e a decisão pendente, mas essa outra que aqui reside, não desiste. Cansada, me entrego aos abalos eméticos, contraio não apenas o ventre, a língua e a boca se entregam ao movimento sísmico. Faço-me vulcão, transmuto-me em descarga desejosa de alivio. Este chega, por fim. E dura, para meu desespero, poucos minutos. Faz-se silêncio, tristeza, vazio. Anoitece em mim uma melancolia, úmida, cinzenta, fétida. Ferida com casca amolecida, dela faço distração. Choro um fado dissonante, bocejo e, então, entrego-me ao sono. Um dia a menos, coragem postergada. 

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